Poitiers: construindo um teatro e um auditório
Decidir o que é essencial num determinado programa para um local dado deveria ser o objetivo primordial de qualquer projeto arquitetônico singular – e nada mais. Isso ainda pode ser mais válido quando um edifício público está em causa, uma vez que envolve uma forte e vibrante interação com a cidade como um “trabalho em progresso”.
O edifício deve ser o mais simples possível, desempenhando um papel distintivo como catalisador e suporte para atividades artísticas e eventos, e contribuindo para a interação social. Deve ser limpo, forte, porém de presença discreta e um marco na cidade, transmitindo informações sobre o seu próprio conteúdo que pode ser lido em diferentes níveis.
O mais simples possível
A plataforma de calcário aberta ao público garante uma continuidade espacial com a cidade e uma homogeneidade do material com o entorno. Sutilmente suspensos acima, também, estão os volumes de paralelepípedo do edifício, revestidos por um vidro branco fosco. Esta pele dupla – concreto/vidro – foi o único gesto de “luxo”, para isto trabalhar como um meio que permite mutações no exterior do edifício – de cor, luz, imagem… No interior, a possibilidade de comunicação.
O auditório
Projetar uma sala exclusivamente dedicada para a música contribuiu com um ótimo resultado acústico e arquitetônico.
A forma tipológica do salão é o de uma caixa de sapatos, um grande espaço retangular com uma área de estar plana. Este modelo – herdado de teatros do séc. XIX é uma opção esquecida atualmente, com a popularidade de salas polivalentes – garante a qualidade e homogeneidade da performance musical, como sua forma suprime a absorção sonora principal e fragmentada (geralmente causada por estar em áreas inclinadas).
No interior, as paredes inclinadas feitas de madeira são separadas a partir de uma superfície do recipiente, produzindo um espaço único que incorpora tanto o palco quanto a orquestra. A sua forma ligeiramente redonda, ditada pela acústica, e sua textura brilhante criam uma estrutura que contrasta com as formas mais escuras e rígidas.
Como resultado, as superfícies de texturas delicadas, que difundem o som, fornecem perfeição acústica e uma sensação de bem-estar sensorial para os artistas e público.
Hall e foyer se comunicam através de portas articuladas disfarçadas de paredes laterais. Uma vez fechada, a continuidade da textura da madeira garante uma leitura homogênea do recipiente espacial.
O Teatro
A sala de teatro foi concebida para ser extremamente versátil e “performática”, a fim de permitir que diferentes tipos de produções e eventos tenham lugar.
Nós tentamos atender tanto as exigências técnicas da “máquina do teatro” e as exigências da intimidade, bem-estar, visual e acústico, otimização acústica da plateia duma forma balanceada e flexível.
A plateia é totalmente configurada por meio de placas de fibra de gesso que produzem uma forma unitária, escura, neutra, um monocromático “casulo” sem limites, apenas pontuada pelas portas, sala de controle e camarotes. Sua forma homogênea e materiais garantem eficácia acústica, a sua simplicidade enfatiza a performance no palco.